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Por que suco de laranja brasileiro é maior beneficiado do recuo parcial de Trump (e o que Brasil ainda espera das negociações)

Donald Trump fala sobre redução das tarifas O vice-presidente Geraldo Alckmin detalhou neste sábado (15/11) o impacto para o Brasil da redução das tarifas ...

Por que suco de laranja brasileiro é maior beneficiado do recuo parcial de Trump (e o que Brasil ainda espera das negociações)
Por que suco de laranja brasileiro é maior beneficiado do recuo parcial de Trump (e o que Brasil ainda espera das negociações) (Foto: Reprodução)

Donald Trump fala sobre redução das tarifas O vice-presidente Geraldo Alckmin detalhou neste sábado (15/11) o impacto para o Brasil da redução das tarifas de importação aplicadas pelos Estados Unidos a alguns produtos, anunciada no dia anterior pelo governo Donald Trump. A decisão, porém, beneficia apenas parcialmente o país, já que manteve a tarifa adicional de 40% aplicada sobre boa parte das exportações brasileiras a partir de agosto, o chamado "tarifaço". O que foi retirado foi apenas a aplicação de uma alíquota de 10%, anunciada em abril para diversos países, inclusive o Brasil. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Essa redução geral impactou alguns produtos. Entre eles, estão itens produzidos aqui, como o café, vários cortes de carne bovina, açaí, castanha-do-pará, tapioca, mandioca e frutas como banana, laranja e côco, dentre outros. Com a medida, o percentual das exportações brasileiras isentas de qualquer tarifa extra adotada na gestão Trump passou de 23% para 26%, disse Alckmin, o que representa, no total, cerca de US$ 10 bilhões em vendas aos EUA. LEIA MAIS: Tarifa menor: Entenda a medida de Trump e por que ela foi vista com ressalvas 'Piorou para o Brasil', dizem exportadores de café após redução de taxa Laranja Sheraz Shaikh/Unsplash O principal item beneficiado foi o suco de laranja, cujas exportações para os americanos somam cerca de US$ 1,2 bilhão ao ano. Vão para os EUA cerca de 40% de todo suco brasileiro enviado ao exterior, cuja produção se concentra no Estado de São Paulo. O produto já estava isento da tarifa de 40% sobre o Brasil - ao lado de itens como petróleo e aviões. Agora, o suco ficou livre também da taxa de 10%. Já o café, por exemplo, continuará taxado em 40%. "Nós vamos continuar trabalhando para reduzir mais. Realmente, no caso do café, não tem sentido, a tarifa ainda é alta, e o Brasil é o maior fornecedor de café para os Estados Unidos", destacou Alckmin, ao conceder coletiva a jornalistas no Palácio do Planalto. O vice-presidente, que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, é um dos que está à frente da negociação com os Estados Unidos para redução das tarifas de 40% sobre o Brasil, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Há expectativa de que os três viajem aos Estados Unidos após a Cúpula do Clima, a COP 30, que acontece este mês em Belém. No entanto, Alckmin afirmou neste domingo que não há nada marcado ainda. "Vamos agora aguardar os próximos passos. Mas nós estamos otimistas que a gente vai ter novos avanços". O anúncio de sexta-feira não faz diretamente parte dessas negociações que estão sendo travadas entre Brasil e EUA sobre as tarifas aplicadas especificamente sobre produtos brasileiros e anunciadas em julho. Elas foram adotadas em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump, e incluem uma tarifa extra de 40% sobre boa parte dos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, somada às taxas recíprocas de 10% anunciadas em abril — levando, portanto, as taxas sobre alguns produtos brasileiros a 50%. LEIA MAIS: Veja a lista de produtos com redução de tarifas pelos EUA Decisão retira tarifa de 10%, e sobretaxa de 40% para o Brasil continua 'Essa redução não tem nada a ver com as negociações entre Brasil e EUA', diz especialista Até o momento, Lula não se manifestou publicamente sobre a decisão do governo americano de retirar as tarifas de 10% sobre alguns produtos agropecuários. Desde o breve encontro entre Lula e Trump na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, os dois países se reaproximaram e reabriram as conversas sobre as tarifas. Os dois presidentes se reuniram pessoalmente na Malásia no fim de outubro para tratar do tema. Nesta semana, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, reuniram-se em duas ocasiões para discutir o tema, primeiro no Canadá e depois em Washington. Após os encontros, Vieira disse acreditar ser possível chegar a um acordo ainda neste mês, o que levaria a negociações mais amplas adiante. "[Um acordo] que estabelecesse um mapa do caminho para uma negociação, que poderia durar dois ou três meses, para então se concluir definitivamente todas as questões entre os dois países", disse Vieira. Segundo o ministro, durante uma reunião virtual em 4 de novembro, foi apresentada uma proposta aos americanos, que seria "uma resposta à primeira proposta que eles apresentaram, em 16 de outubro". Foi uma referência ao primeiro encontro com Rubio, na Casa Branca, para dar início ao processo de negociação. Vieira ressaltou que a resposta americana pode vir nos próximos dias. O presidente Donald Trump, em 10 de novembro de 2025 REUTERS/Kevin Lamarque Impacto no bolso dos americanos explica recuo de Trump A decisão de suspender parte das tarifas de 10%, anunciadas em abril, foi publicada em uma ordem executiva na sexta-feira, assinada por Trump. Na ordem executiva, Trump afirma que decidiu mudar o escopo de produtos sobre os quais essas taxas são cobradas após receber informações e recomendações de autoridades que monitoram a aplicação destas medidas, além de considerar o andamento das negociações com outros países, a demanda interna por certos produtos e a capacidade de produção americana destes itens. No documento, diz que a mudança será aplicada a uma série de produtos listados em um anexo e que ela entrará em vigor "em relação às mercadorias que entrarem para consumo, ou forem retiradas do armazém para consumo, a partir das 00h01 [no horário local] do dia 13 de novembro de 2025". Na terça-feira (11/11), Trump havia mencionado em entrevista à Fox News uma possível redução em tarifas sobre o café, sem citar quais países seriam beneficiados. Seu governo vem enfrentando crescente pressão devido ao aumento da inflação no país. O preço do café acumula neste ano uma forte inflação nos EUA, e a tarifa imposta sobre a produção brasileira estava agravando esse cenário — causando preocupação em Trump por pressioná-lo em uma frente importante para seu eleitorado, a economia. Segundo um cálculo da BBC News Brasil a partir de dados oficiais do MDIC, em setembro, a quantidade de café brasileiro enviada aos EUA caiu quase pela metade (-47%) em relação ao mesmo mês de 2024. Na primeira conversa travada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar das tarifas, no início de outubro, o presidente americano admitiu que os EUA estava "sentindo falta" de alguns produtos brasileiros afetados pelas tarifas, e citou especificamente o café, segundo apurou a BBC News Brasil na época. Saca de café em fazenda perto de Brasília em 15 de julho de 2025 Adriano Machado/Reuters O Brasil também é o quarto maior fornecedor de mangas e goiabas (que estão juntos na nomenclatura de mercadorias usada no comércio exterior) para os americanos, tendo embarcado cerca de US$ 56 milhões desses produtos ao país em 2024. O México é o principal fornecedor, com US$ 550 milhões, seguido do Peru (US$ 96,9 milhões) e do Equador (US$ 56 milhões), segundo o Observatório de Complexidade Econômica. Os EUA cultivam manga em Estados como Flórida, Califórnia e Havaí, mas boa parte do consumo interno é suprido com importações. O mesmo vale para a goiaba, com cultivo modesto na Flórida, no Havaí e em Porto Rico. Produtores brasileiros de manga foram duramente afetados pelas tarifas americanas, com produção encalhada diante do cancelamento de pedidos, como mostrou a BBC News Brasil. O Brasil é ainda o maior exportador de carne bovina do mundo e responde por 23% das importações americanas do produto, segundo cálculo da Genial Investimentos. Os EUA são o segundo maior mercado para o produto brasileiro, atrás apenas da China. Mas, ao contrário do café e de frutas como a manga, no caso da carne os EUA são também um grande produtor. No entanto, o país enfrenta uma queda histórica na oferta de carne bovina. Atualmente, os EUA têm o menor número de cabeças de gado em 74 anos, depois que os pecuaristas reduziram a produção após vários anos de seca e preços baixos. Paralelamente, a demanda dos consumidores se manteve firme, fazendo com que os preços nos supermercados aumentassem. A suspensão das tarifas sobre a carne também deve beneficiar a Argentina, que responde por 2,1% das importações americanas e é governada por Javier Milei, aliado de Trump. No início de novembro, Trump disse que compraria mais carne argentina para baratear o produto no mercado americano, o que deixou produtores nacionais enfurecidos. Trump sempre afirmou que suas tarifas não levariam ao aumento de preços para os consumidores americanos, mas as isenções recentes sinalizam uma mudança de postura. Economistas já haviam alertado que as empresas repassariam o custo das tarifas de importação, gerando preços mais altos para os consumidores. Embora a inflação tenha permanecido mais moderada do que muitos analistas previam em setembro, a maioria dos itens monitorados no relatório de inflação do Departamento do Trabalho apresentou aumento, com os alimentos subindo 2,7% em relação ao ano passado.